terça-feira, 31 de julho de 2007

Trecho do conto "A Noite do Lobisomem"


"Não ousava, não podia ousar dizer o nome do monstro. Assustar-lhes-ia ainda mais e mesmo ele não queria, não podia acreditar no que estava acontecendo, sendo perseguido por uma criatura, meio humana, meio lobo... um lobisomem. Estavam irremediavelmente condenados.
Começaram a correr, em desabalada carreira. Definitivamente estavam todos com um temor mortal. O pânico lhes roía a orla da mente com dentes de aço, tentando se apossar deles por
completo, até talvez fazê-los caírem no chão, gritando e se debatendo, sem reação, até que a criatura viesse e os pegasse. Mas o maior medo ainda estava no fato de que mais uma vez, e
de forma inevitável, poderia soar aquele latido sombrio... o lobisomem, clamando pela sua presa.
E correram e correram, passando por várias ruas e vielas estreitas, temendo que a cada esquina que dobrassem uma criatura grotesca e bestial saltasse sobre eles e lhes rasgasse a garganta. Exaustos, tontos e confusos, para eles as ruas começaram a confundir-se, como um labirinto em espiral no qual parecia-lhes que voltavam sempre ao mesmo lugar. E não poderiam pedir ajuda para ninguém, pois vivalma se arriscava a passar na rua na noite do lobisomem, e muito menos deixar suas casas abertas, como já haviam reparado antes. Por várias vezes eles sacudiram os portões das casas com uma fúria movida pelo medo, gritando por socorro, mas nada conseguiram. As casas se mantinham em obstinado silêncio, e os pesados portões, na maioria das casas, terminavam em pontas de flecha bastante afiadas, sendo impossível saltarem, e todos eles estavam fechados com resistentes correntes e cadeados... os donos talvez já sabendo de uma possível imprevisibilidade como aquela. De modo que após um ou dois segundos sem resposta interna, deixavam o lugar e continuavam a correr, pois esperar mais era morte certa.
Em meio àquela louca correria, com seus pulmões em fogo e as pernas trêmulas, um pensamento subitamente brotou na cabeça do artista principal:
Então era POR ISSO que todas as casas estavam fechadas... ESTÃO fechadas... por causa que nenhum morador daqui iria arriscar-se a ter seu lar invadido por um lobisomem numa noite de lua cheia... e por falar em lua cheia, o que acontecerá quando ela surgir, toda, por detrás daquelas árvores do bosque, envolta por um punhado de nuvens escuras? Eu gostaria muito de saber.
Ele continuou pensando, num frenesi:
E todas aquelas histórias que nos contaram eram realmente verdade, e nós não quisemos acreditar, não as levamos em conta, nem demos a mínima para elas, e olhem só! Mas quando, santo Deus, eu poderia acreditar naquilo? Quando poderíamos acreditar nisso? E o resto do pessoal da filmagem? Será que estão bem? Será que ouviram o mesmo que nós e agora estão desesperados, correndo pela cidade tentando escapar do lobisomem numa fúria louca? Será?... Bem, depois os habitantes daqui podem dizer que nos avisaram... se houver depois. Eles SABIAM. Por Deus, todos eles sabiam... deve ser uma coisa antiga, passada de geração a geração... Meu Deus, então era por isso... nenhuma pessoa nas ruas, nenhum carro à vista, não há ninguém, não há nada... para onde vamos? Então era por isso! que devemos fazer? Que faremos? Que faremos?....
E à medida que corriam, sem um lugar definido para onde ir (já haviam se perdido por completo e o hotel onde pernoitariam era a última coisa em suas mentes), os uivos iam ficando cada vez mais regulares e mais fortes. Estava se aproximando. Podiam senti-lo se aproximando."

Nenhum comentário: