segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Notas (cont.)


Acerto de Contas ou Duelo Suburbano - O único dos contos do livro que foi escrito, vamos dizer assim, "por encomenda". Há algum tempo atrás, o Metrô de SP fez um concurso de contos aberto a novos escritores que, obrigatoriamente, teriam que envolver ou o metrô daqui de Sampa ou as linhas da CPTM (trens suburbanos) no enredo da história. Pensei: vou fazer uma história bem ao meu estilo, nada de rasgar seda para ficar colocado. Fiz isso... e não ganhei nada, mesmo!

Resolvi escrever um conto em que um sujeito estranho e taciturno, morador de um bairro pobre, se envolve em uma enrascada e usa o trem para encontrar pessoas que resolveram cobrá-lo. Cobrá-lo de quê? Dívidas pendentes?... Um servicinho mal-feito?... Esse ponto decidi deixar obscuro. O caro leitor que decida o que achar melhor... a história começará daí, com o personagem saindo de um cortiço no Brás e pegando o trem, na estação Roosevelt, e indo até Estudantes (o fim da linha), no Expresso Leste, como é chamado. Mas como não haverá nenhum entendimento (pois as duas partes estarão dispostas simplesmente a matar ou morrer) um duelo será travado. Por isso, o subtítulo Duelo Suburbano. Mais um duro dia nos subúrbios de uma grande cidade como São Paulo. Este é um mundo difícil, um grande e difícil mundo.

Em 1996, quando estudava na escola Carlos de Campos, sempre descia na estação Brás do metrô e fazia um caminho que, se por um lado poupava tempo, por ser mais reto, atravessava, lamento dizer, lugares decrépitos, à beira dos trilhos do trem, separados por uma rua e um muro. Cortiços, velhas fábricas arruinadas, hotéis baratos, ruas desertas que passavam sob viadutos e em uma ocasião até um homem morto (de verdade) numa imunda passarela sobre a linha do trem. Enfim, uma atmosfera suja e fumacenta, um ambiente deteriorado, esquecido pela municipalidade, porém muito fértil de detalhes pitorescos e tipicamente suburbanos que passam a maior parte do tempo desapercebidas. Foi esse lugar, que eu passava todo santo dia, que resolvi colocar como sendo a "estrela" da história. A própria ferrovia de subúrbio, com seus trens desmantelados, também dá um ar decadente, e pensava como seria se eu mesmo estivesse morando lá, não conseguindo dormir direito por causa do barulho do trem passando muito próximo a cada 5 minutos... uma cidade fria, cínica, brutal.

Acho que o Metrô não gostou. Até porque a parte "dedicada" à CPTM é bem rápida mesmo, está "de passagem" no conto, pois a história está centrada no personagem principal e seu acerto de contas. No entanto, os editores da Litteris leram e aprovaram. Deus os abençoe por isso.

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