segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Trecho do conto "A Capela Maldita"


"Era uma aberração.

Na parede, uma imensa cruz de madeira, invertida, indicava a Igreja de Satã; no altar, havia um livro aberto, um pires cheio de sangue e, em cima deste, o crânio de um carneiro, com aqueles
longos chifres recurvados.

!!!SAIA DAQUI!!! Gritou a sua mente.

Com isso Eduardo acordou de seu estupor. Parecia que estava petrificado, mas, ao invés de dar as costas e sair, começou a subir lentamente os degraus do altar.

Enquanto subia, o ar ia ficando mais e mais pesado; Eduardo quase podia sentir uma vibração surda no ar.

Foi até o livro aberto. O livro era antigo, muito antigo; era de uma época em que as pirâmides ainda não haviam sido inventadas, nem os dinossauros existiam; duma época em que o mundo ainda era jovem, e a Terra flutuava solta no espaço como uma bola de gás. Mas que não obstante a coisa ou o ser que havia escrito isso já existia.

Era escrito num antigo pergaminho, que, ao ser tocado, virava farelo; em latim ou caracteres rúnicos, ou numa língua morta de uma época também morta.

De repente, aquela porta, aquela pesada porta de madeira, que tanto custara para abrir, fechou-se de uma vez, com um estrondo: Blam! Parecia feita de paina, e nenhum vento soprara
para fechá-la. Aliás, que vento conseguiria fechar aquela porta?

Foi então que Eduardo compreendeu mais uma vez que estava ferrado, mas que desta vez estava ferrado mesmo. O que deveria ser um fantástico fim-de-semana havia se transformado no seu pior pesadelo. Primeiro, se perdera. Depois, o que ele fazia ali, dentro de uma igreja profana, lendo um livro maldito com uma cabeça de carneiro do lado, com um pires cheio de sangue? Tinha se convidado para o seu próprio funeral."

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