domingo, 20 de janeiro de 2008

Annabel Lee, no original


Neste post, a versão original de Annabel Lee.



It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of ANNABEL LEE;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason (as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Annabel Lee


"O Corvo" é genial, adoro-o, mas o meu poema preferido de Poe é este: Annabel Lee. Linda tradução de Fernando Pessoa.



Annabel Lee*
Edgar Allan Poe


Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino de ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.


Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.


E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.


E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.


Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.


Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.


*Ritmicamente conforme com o original.

O Corvo (II)


Há também uma outra tradução do famoso poema de Poe, desta vez feita por Machado de Assis - que também é excelente, por sinal. Escolha a sua versão, e boa leitura.

O Corvo
Edgar Allan Poe



Em certo dia, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais".


Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o colchão refletia
A sua última agonia.
Eu ansioso pelo Sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará mais.


E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui, no peito,
Levantei-me de pronto, e "Com efeito,
(Disse), é visita amiga e retardada
"Que bate a estas horas tais.
"É visita que pede à minha porta entrada:
"Há de ser isso e nada mais".


Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo, e desta sorte
Falo: "Imploro de vós - ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
"Mas como eu, precisando de descanso
"Já cochilava, e tão de manso e manso,
"Batestes, não fui logo, prestemente,
"Certificar-me que aí estais".
Disse; a porta escancar, acho a noite somente,
somente a noite, e nada mais.


Com longo olhar escruto a sombra
Que me amedronta, que me assombra.
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, com um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.


Entro co'a alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Älguma coisa que sussurra. Abramos,
"Eia, fora o temor, eia, vejamos
"A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais,
"Devolvamos a paz ao coração medroso,
"Obra do vento, e nada mais".


Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
de um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta em um busto de Palas:
Trepado fica, e nada mais.


Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gosto severo, - o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "Ó tu que das noturnas plagas
"Vens, embora a cabeça nua tragas,
"Sem topete, não és ave medrosa,
"Dize os teus nomes senhoriais;
"Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".


Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que eu lhe fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Coisa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta a dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".


No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário.
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda sua alma resumisse,
Nenhuma outra proferiu, nenhuma.
Não chegou a mecher uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
"Tantos amigos tão leais!
"Perderei também este em regressando a aurora".
E o corvo disse: "Nunca mais!"


Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
"Que ele trouxe da convivência
"De algum mestre infeliz e acabrunhado
"Que o implacável destino há castigado
"Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
"Que dos seus cantos usuais
"Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
"Esse estribilho: "Nunca mais".


Segunda vez nesse momento
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E, mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera,
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".


Assim pôsto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo, a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da Lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam
E agora não se esparzem mais.


Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível:
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
"Manda repouso à dor que te devora
"Destas saudades imortais.
"Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora".
E o corvo disse: "Nunca mais".


"Profeta, ou o que quer que sejas!
"Ave ou demônio que negrejas!
"Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
"Onde reside o mal eterno,
"Ou simplesmente náufrago escapado
"Venhas do temporal que te há lançado
"Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
"Tem os seus lares triunfais,
"Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".


"Profeta, ou o que quer que sejas!
"Ave ou demônio que negrejas!
"Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
"Por esse céu que além se estende,
"Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
"Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
"No Éden celeste a virgem que ela chora
"Nestes retiros sepulcrais,
"Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!"
E o corvo disse: "Nunca mais!"


"Ave ou demônio que negrejas!
"Profeta, ou o que quer que sejas!
"Cessa, ai, cessa! (clamei, levantando-me) cessa!
"Regressando ao temporal, regressa
"À tua noite, deixa-me comigo...
"Vai-te, não fique no meu casto abrigo
"Pluma que lembre essa mentira tua.
"Tira-me ao peito essas fatais
"Garras que abrindo vão a minha dor já crua"
E o corvo disse: "Nunca mais".


E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais.


Feliz Aniversário, Edgar Allan Poe





Hoje, 19 de janeiro, Edgar Allan Poe completa 199 anos. E ele está mais vivo do que nunca. O escritor americano nascido em Boston em 1809, de vida errante e boêmia, foi o criador do gênero policial e o primeiro mestre do Terror. Um dos maiores nomes da literatura universal, Poe representou quase sozinho o movimento Romântico americano. Sua inteligência e sua verve para o misterioso, o macabro, o oculto, é indispensável para qualquer fã que se preze. Além disso, é poeta: seu poema "O Corvo" (que reproduzirei aqui) é talvez um dos mais conhecidos do mundo. Um dos meus ídolos na literatura fantástica. Seus contos são legendários: Enterro Prematuro, A Máscara da Morte Rubra (citado inclusive por Stephen King em O Iluminado), William Wilson, O Coração Denunciador, Os Crimes da Rua Morgue, O Mistério de Marie Roget.

Da introdução do meu exemplar de Histórias Extradiornárias: "A base de toda a prosa de Poe apóia-se no fantástico das exarcebações da natureza humana: alucinações, cuja lógica ultrapassa a da consciência habitual; mentes inquietas e febris; personagens neuróticas; o duplo de cada homem. A impressão de realismo é criada dentro do irreal. Os cenários são brumosos, repletos de elementos de morte e fatalidade. O fatalismo e o mergulho no lado desconhecido da alma humana revelam uma vivência pessoal que fez de Poe um dos principais 'escritores malditos' da Literatura Universal. A influência de Poe estendeu-se à poesia simbolista, à ficção científica, ao romance policial moderno e psicológico".

Quase dois séculos depois do seu nascimento, além de mais de uma centena de anos da sua morte (Poe faleceu em 1849, com apenas 40 anos de idade, em decorrência do alcoolismo), a Máscara da Morte Rubra ainda domina tudo, e você, Poe, ainda continua Extraordinário como suas histórias. Às portas da sua ruína, foste encontrado na rua, inconsciente, mas Sua obra não morrerá jamais, e o gênero Terror depois de você nunca mais foi o mesmo.

À esse "maldito", a nossa bênção. Edgar Allan Poe, um bravo!!!



O Corvo*
Edgar Allan Poe


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!


(tradução de Fernando Pessoa)

*Ritmicamente conforme com o original.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Tributo à Vampira

Há exatamente uma semana atrás (dia 10), talvez mesmo enquanto escrevia meu post sobre os "ídolos teen" (quem sabe?...), morria de causas naturais em Los Angeles, EUA, a atriz Maila Syrjaniemi Nurmi, mais conhecida como Vampira. Ela tinha 86 anos. Apesar de ser mais conhecida por um único filme, o trash lendário Plan 9 From Outer Space, Vampira estava afastada das telas desde 98, quando fez seu último trabalho, e vivia modestamente no sul da Califórnia, quase esquecida. A bem da verdade, depois de Plan 9 sua carreira entrou em uma fase descendente da qual jamais conseguiu se recuperar. Mas nada disso interessa. Vampira, a personagem que essa bela finlandesa de Petsamo (que era loira, na verdade) criou e incorporou, é imortal. Como um verdadeiro vampiro deve ser. Seu carisma e sua inconfundível caracterização - Unhas grandes, cabelos negros, sombrancelhas arqueadas e um generoso decote apertado em um vestido preto - selou, a partir dela, o estilo que viria a ser o padrão para as vampiras de todas as gerações futuras. Ela mesma já declarou que serviu de modelo para Mortícia Addams, a personagem da série de TV Família Addams dos anos 60 - e mais tarde, do filme também, claro. Elvira, a Rainha das Trevas, claramente presta uma homenagem à ela. 

Em um certo dia de 1982, Vampira recebeu a visita inesperada de quatro punks de New Jersey que se intitulavam The Misfits; nessa ocasião Vampira mostrou-se muita surpresa pelo fato de alguém vir procurá-la, pois já se considerava completamente esquecida; mais surpresa ainda deve ter ficado quando os tais punks disseram que haviam feito uma música em sua homenagem, intitulada Vampira, e a convidaram para o lançamento de seu disco Walk Among Us, dias depois - o que realmente ela fez, comparecendo ao lançamento apesar de todas as dificuldades já naquela época e de estar com mais de 60 anos. Jerry Only, um dos fundadores da banda, declarou no site www.misfits.com: "I found her one of the bravest and most charming people despite heartbreaks that came her way. When she found out what she meant to us, she went out of her way to come down and see us at the record store Vinyl Fetish in LA for the release of “Walk Among us” in 1982 and I’ll never forget that. She will be missed.” (Eu achei ela uma das pessoas mais corajosas e charmosas a despeito das dificuldades que teve em seu caminho. Quando ela descobriu o que significava para nós, ela saiu da sua rotina para nos ver na loja Vinyl Fetish em LA para o lançamento do disco "Walk Among Us" em 1982 e eu nunca esquecerei isso. Ela fará falta) -numa tradução livre. Quem sabe se essa ocasião não foi uma das últimas a ter seu talento reconhecido? Há também um pouco de Vampira em Freddy Krueger e até em Zé do Caixão. Sua contribuição para o imaginário do Terror é imensa, incalculável. 

Vampira, és a lenda, o ideal gótico, a pioneira, a primeira nos nossos corações, a melhor que já existiu. A mãe de todas. Vampira é isso aí, a mãe de todas. Não sobra mais nada, depois dela. Foi a primeira apresentadora de um programa de terror na história da televisão, o "The Vampira Show", em 1954, o que nos EUA lhe valeu a alcunha de Glamour Ghoul. Também foi a primeira "Rainha do Horror", antes das "Rainhas dos Gritos" (Scream Queens) Janet Leigh, Jamie Lee Curtis e Neve Campbell, tendo aparecido nos seus dias de glória nas revistas Life e Newsweek. Foi indicada para um Emmy em 1954 como "Melhor Personalidade Feminina". Músicas foram escritas em sua homenagem; e conseguiu tudo isso sem proferir uma única palavra no seu filme mais conhecido. Por tudo isso, Vampira, descanse em paz. Na antiga Roma, quando alguém morria, dizia-se que essa pessoa não havia morrido, mas sim vivido. Do tipo, Fulano de Tal viveu tantos anos. E Vampira, você vive ainda - em cada gótica que ama em cemitérios, em cada garota suicida, em cada bad girl, ou em cada mulher fatal que usa um vestidinho preto colado no corpo e sai para seduzir. Se em vida faltou-lhe mais reconhecimento, a História lhe fará justiça. Penso que a maior homenagem para você é uma noite tormentosa e escura num cemitério antigo, com a chuva caindo inclemente e os raios estourando ameaçadores, com as árvores nuas e o vento soprando e assobiando por entre os túmulos e mausoléus. De minha parte, Vampira, eu coloco uma rosa na tua sepultura; e dou um beijo no mármore frio. 



Vampira 

 21 de Dezembro de 1921 - 10 de Janeiro de 2008 IN MEMORIAM

Tributo à Vampira (II)


Misfits
Vampira


Hey

Black dress moves in a blue movie
Grave Robbers from outer space
Well, your pulmonary trembles in your outstretched arm
Tremble so wicked

Two inch nails
Micro waist
With a pale white feline face
Inclination eyebrows to there

Mistress to the horror kid
Cemetery of the white love ghoul, well
Take off your shabby dress
Come and lay beside me

Come a little bit closer
Come a little bit closer
Come a little bit closer
Come a little bit closer to this

Vampira, Vampira, Vampira

Hey, hey, hey, hey, hey, hey, hey


Tributo à Vampira (III)


Zumbis do Espaço
Nos Braços da Vampira


Ela vem junto com o vento, com seus cabelos negros
Suas presas reluzindo, já não temos mais tempo
Quero sentir o seu corpo, Vampira
Seus dentes no meu pescoço, Vampira

Nossos sangues se encontram, as trevas nos esperam
Sei que não pertenço mais ao mundo dos mortais
Quero estar sempre ao seu lado, Vampira
Quero ser o seu escravo, Vampira

Vampira
Quero ter a vida eterna,
Quero ser o seu escravo,
Quero morrer nos seus braços

Sobrancelhas inclinadas em uma bela face pálida
Vários túmulos violados, o mundo em pedaços
Você veio do espaço, Vampira
Quero morrer nos seus braços, Vampira


quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ídolos "teen"


Ídolos "teen" mesmo são esses aqui, ó!...







"Carlos, empreste-me a sua orelha..."
- F. K.

Da série "Carros que eu quero": Plymouth Fury 1958




"O nome da máquina é Christine."
-
Roland D. LeBay

E tem que ser vermelho e branco.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Dica de Downloads!



Garimpando por aí, na net, topei com o blog Diversão e Arte. Na seção Biografias, você encontra vários e-books de autores como Stephen King, Agatha Christie, Sidney Sheldon e Jorge Amado, disponíveis para download, junto com uma pequena biografia do(a) escritor(a) e uma pequena sinopse de cada obra. Livros que faltavam na minha coleção do Mestre, impossíveis de achar por serem antigos e já estarem fora de catálogo - como por exemplo, "Cão Raivoso" (Cujo) e Fúria (The Fury) - estão lá, além de uma raríssima HQ com três histórias de Creepshow. E o melhor: é de graça, sem precisar de senha nem nada, é só baixar e pronto. Ah! Eu tô maluco! Devidamente adicionado nos links!

Livros do Stephen King disponíveis para download. Em parênteses, o título original em inglês:

- O Talismã (co-autoria de Peter Straub)
- Angústia (Misery)
- Jogo Perigoso (Gerald's Game)
- A Coisa (It, 2 volumes)
- Tripulação de Esqueletos (Skeleton Crew)
- Sombras da Noite (Night Shift)
-
A Planta (The Plant)
-
O Iluminado (The Shining)
- A Longa Marcha (The Long Walk)
- Fúria (The Fury)
-
A Hora do Lobisomem (Cycle Of The Werewolf)
-
A Metade Negra (The Dark Half)
-
A Torre Negra - O pistoleiro, vol. 1 (The Dark Tower)
-
Dissecando - de Tim Underwood & Chuck Miller (Bare Bones: Conversations on Terror with Stephen King, coletânea de várias entrevistas de S.K.)
- Montando na Bala (Riding The Bullet)
-
À Espera de um Milagre (The Green Mile) - a mesma obra que foi originalmente lançada como O Corredor da Morte, aqui no Brasil, em livros seriados.
- Quatro Estações (Four Seasons)
-
Carrie, A Estranha (Carrie)
-
O Cemitério (Pet Sematary)
-
Cão Raivoso (Cujo)
- Zona Morta (The Dead Zone)
- A Incendiária (Firestarter)
- HQ Creepshow (com 3 histórias: Dia dos Pais, A Morte Solitária de Jordy Verril e Elas estão por Todas as partes)