quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Trecho do conto "Eu Fui Um Monstro Adolescente"


"Patrícia disse essa frase num tom de blague, de ironia, mas então Patrícia viu. Patrícia viu a modificação no rosto da sua irmã -– de repente Carolina estava parada, olhando para ela com
o semblante triste; num outro momento sua cara começou a se retorcer toda, sozinha, a mexer de cima para baixo e para os lados, por dentro da face, como se houvesse enormes insetos
rastejando por debaixo da pele, fazendo protuberâncias que se mexiam. Mas não eram insetos; era a própria pele de Carolina que se retorcia tentando se adaptar em poucos segundos à sua
nova-antiga realidade. Seus olhos viraram, mostrando o branco e repentinamente caíram para dentro do crânio, como se neste houvesse um buraco onde o olho pudesse fazer aquilo livremente. O fato é que os olhos caíram para dentro e sumiram. Rugas imensas, entremeadas com estranhos pêlos, que pareciam ásperos e pontudos, começaram a aparecer por toda a sua testa, e, por que não dizer, por todo o seu corpo também. Seu lindo cabelo loiro caía da testa e do couro cabeludo. Ao ver isso Patrícia pensou que parecia que estava a ver um velho em acelerado
processo de decomposição. Suas narinas e sua boca repuxaram para os lados da orelha, que também estava se espremendo, num terrível esgar, e Patrícia percebeu que a verdadeira face do mutante estava tentando sair, e isso dependia daquele tremendo esforço que sua irmã estava fazendo. Quando a cara de Carolina ficou enrugada e sem olhos, apenas com o buraco preto, uma
espécie de tromba pegajosa, parecida com a boca de uma lampreia ou a de um verme asqueroso, começou a inflar no meio da sua face. A nova “boca” abriu-se aos poucos, e Patrícia viu lá dentro uma baba verde e gosmenta, nada lembrando o líquido comum de uma saliva humana. Suas costas começaram a arquear, como se exatamente naquele momento Carolina tivesse ficado
corcunda, o que dava uma aparência ainda maior à protuberância no centro de sua face, que já estava grande. E a transformação continuou no resto do corpo: seus braços começaram a encolher para dentro do tronco, como se Carolina estivesse contando uma piada de alguém sem braços, e eles encolheram e ficaram parecidos com os de um tyranossauro rex, inúteis. Sua roupa
estava se rasgando devido às imensas rugas que a pele do ser extraterrestre deixavam ao sair, uma pele verde, sebosa, espalhada. Os fiapos de pano e tecido caíam no chão. O tronco de Carolina começou a crescer para os lados, e seus pés e pernas foram fundindo-se até ficarem uma coisa só, um órgão só. Primeiro, os pés iam ficando achatados, como que amassados
por poderoso martelo; depois, as unhas caíam (ou melhor, pulavam para fora da antiga-nova pele) e juntavam-se então com um ruído realmente nojento. A mesma coisa com suas pernas e
joelhos, que se uniram e esparramaram as enormes rugas com os pêlos ásperos para fora para manter o equilíbrio da coisa.

Por fim, a cara dela inteira foi se espremendo para dentro e depois desapareceu, ficando só a “tromba” com os dentes afiados, sem olhos, sem nariz, sem braços e pernas, sem nenhuma aparência de ser humano, um verme que se mexia em movimentos espasmódicos e irrequietos, desacostumados com o ambiente. Seu corpo era o de um bizarro tronco de árvore que não fora adaptado para andar neste planeta."

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Trecho do conto "A Capela Maldita"


"Era uma aberração.

Na parede, uma imensa cruz de madeira, invertida, indicava a Igreja de Satã; no altar, havia um livro aberto, um pires cheio de sangue e, em cima deste, o crânio de um carneiro, com aqueles
longos chifres recurvados.

!!!SAIA DAQUI!!! Gritou a sua mente.

Com isso Eduardo acordou de seu estupor. Parecia que estava petrificado, mas, ao invés de dar as costas e sair, começou a subir lentamente os degraus do altar.

Enquanto subia, o ar ia ficando mais e mais pesado; Eduardo quase podia sentir uma vibração surda no ar.

Foi até o livro aberto. O livro era antigo, muito antigo; era de uma época em que as pirâmides ainda não haviam sido inventadas, nem os dinossauros existiam; duma época em que o mundo ainda era jovem, e a Terra flutuava solta no espaço como uma bola de gás. Mas que não obstante a coisa ou o ser que havia escrito isso já existia.

Era escrito num antigo pergaminho, que, ao ser tocado, virava farelo; em latim ou caracteres rúnicos, ou numa língua morta de uma época também morta.

De repente, aquela porta, aquela pesada porta de madeira, que tanto custara para abrir, fechou-se de uma vez, com um estrondo: Blam! Parecia feita de paina, e nenhum vento soprara
para fechá-la. Aliás, que vento conseguiria fechar aquela porta?

Foi então que Eduardo compreendeu mais uma vez que estava ferrado, mas que desta vez estava ferrado mesmo. O que deveria ser um fantástico fim-de-semana havia se transformado no seu pior pesadelo. Primeiro, se perdera. Depois, o que ele fazia ali, dentro de uma igreja profana, lendo um livro maldito com uma cabeça de carneiro do lado, com um pires cheio de sangue? Tinha se convidado para o seu próprio funeral."

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Trecho do conto "Duelo Suburbano"


"No fim de uma rua qualquer, sob um poste de luz, avistavam-se indistintamente quatro pessoas. Duas estavam andando lentamente, para lá e para cá, no meio da rua (que estava absolutamente vazia, de carros e de gente, exceto por aquelas pessoas) e duas estavam sentadas.

A figura sombria e soturna do homem do acerto de contas avançava para seu destino, que era matar ou morrer, ainda com as mãos nos bolsos. Um nevoeiro noturno, saído não se sabe de
onde, começou a tomar a rua, espesso como um matagal, a princípio raso, depois subindo e coleando lentamente. O homem do acerto de contas saiu da calçada e foi para o meio-fio. À meia-distância, um observador indiferente diria que tanto as quatro pessoas no fim da rua como o homem do acerto de contas ainda estavam indistintas.

À medida que a figura do homem do acerto de contas foi se aproximando, as duas pessoas que estavam sentadas levantaram-se, mas tomaram rumos opostos. Uma foi para trás, e a outra se
juntou às outras duas, que, ao verem o homem do acerto de contas, pararam de andar displicentemente de um lado para o outro e ficaram paradas no meio da rua, olhando e esperando por ele. O vento frio estremeceu o homem do acerto de contas, e ele parou. Enfim, tirou lentamente seu revólver calibre 45 do bolso."

domingo, 19 de agosto de 2007

Trecho do conto "O Fantasma do Mal"


"Acordei sobressaltado nas trevas do meu quarto com um barulho estranho. Estava pensando, meio sonolento, em ir ao banheiro do 2º andar (onde passávamos a noite; eu dormia num quarto e meus pais no quarto à esquerda no corredor) para dar uma mijada rápida e voltar para a cama, mas aquele ruído me fez hesitar um pouco mais, pois também vinha do banheiro.

Não consegui identificá-lo de imediato, posto que acabara de acordar, e estava ainda no 1º sono quando despertei. Então, resolvi levantar e ir verificar para ver o que era aquilo de uma vez por todas. O banheiro do 2º andar ficava em frente ao meu quarto, do outro lado do corredor.

A primeira coisa que pensei quando saí do meu aposento foi que algum dos meus pais estava lá, pois a porta estava encostada e a luz amarelada do banheiro saía por baixo da porta. Isso, e aquele barulho. Mesmo assim, resolvi ir em frente. Não chamei ninguém para verificar nem bati à porta; apenas cheguei perto e entrei.

Mas, meu Deus, foi aí que eu vi!... Eu deveria saber... minha premonição acontecera! O barulho fora da água esguichando –a torneira da pia e o chuveiro tinham ligado sozinhos e a água escorria em grandes e ruidosas poças. A descarga da privada era acionada repetidas vezes, e a água subia e descia com um barulho infernal de arroto, escarro, regurgitação, e era mesmo como se alguém mesmo estivesse rindo, horrível... O pressentimento de alguma coisa horrenda, supersticiosa e louca, invadia todo o meu corpo e arrepios passavam pela minha pele como descargas elétricas. Nunca esquecerei aquela litania... alguém morrera lá, e foi nesse momento que todas as torneiras da casa se abriram no máximo com um guincho agudo, despejando água para todos os lados, então a privada do banheiro do 1º andar começou a funcionar e isso foi demais para meus pais, que finalmente acordaram e vieram correndo verificar.

– - O que está acontecendo?? -– gritou minha mãe. Meu pai era uma cara muda de assombro. Eles chegaram no banheiro, perto de mim, e meu pai gritou:

– - O que é isso?? –- gritou ele de puro horror, e apontou para a pia e a banheira. Os gritos dela recomeçaram, mas, que droga, eu não podia, eu tinha que ver... eu tinha que ver...

A pia e a banheira começaram a jorrar sangue."

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Notas (cont.)


A Dinastia - último conto do livro, o mais longo e, talvez, o que tive mais prazer em escrever. A história fluiu do começo ao fim. Instigada por uma reportagem de jornal e baseada em parte em outro pesadelo, "A Dinastia" é também uma homenagem à Fausto, de Goethe - o homem que vende sua alma ao Diabo para conseguir tudo que se queria.

A reportagem de jornal, de cujo nome não consigo lembrar-me, falava sobre o triste fim que levaram os descendentes dos Matarazzo, família rica e tradicional aqui de São Paulo que começou na humildade, foi crescendo aos poucos e no seu apogeu tornou-se um império industrial; para depois lenta e melancolicamente ir declinando, declinando, não conseguindo seus herdeiros levarem os negócios adiante. O artigo discorria sobre os remanescentes de outrora uma das mais influentes e ricas famílias de Sampa terminarem lutando na justiça por uns poucos espólios das antigas glórias. Um exemplo de sua vetusta magnitude ainda está de pé: é justamente o mausoléu da família no Cemitério da Consolação. Majestoso, todo de mármore, imponente e inspirador de um respeito silencioso, guarda os restos mortais da antiga e poderosa família.

Lembrei-me disso dias depois, quando (talvez influenciado pela matéria) tive um pesadelo a respeito de um mausoléu que, estranha e incoerentemente, erguia-se ao lado de uma mansão. Nesse sonho, o próprio Diabo saía de dentro da catacumba para reclamar a vida de um dos proprietários do solar. O pesadelo parou por aí.

Outro dia, mais tarde, ainda com o sonho na cabeça, pensei: e se juntasse esse pesadelo que tive com a figura de um modesto trabalhador, que, como em Fausto, faz um pacto com o Demônio para conseguir fortuna e riquezas? A única exigência do Diabo, então, seria a construção de um mausoléu adjacente ao palácio, à vista de todos, e nele iria se desenrolar as principais partes do drama.

Assim fiz, e com esse enredo em mente comecei a escrever a história no dia 6 de janeiro de 2006, 12 dias antes de começar a redigir Eu Fui Um Monstro Adolescente. Compor A Dinastia foi tão direto e divertido que em três dias quase ininterruptos o conto todo já havia sido terminado. E de propósito, coloquei o nome do mordomo de Fausto...

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Notas (cont.)


Eu Fui Um Monstro Adolescente - Uma "homenagem" àqueles antigos filmes de terror 'de monstro' da década de 50, a saber: "I Was a Teenage Werewolf" (Eu Fui um Lobisomem Adolescente) e "I Married a Monster from Outer Space" (Casei-me com Um Monstro Espacial, em tradução livre), que ofereciam Terror & Diversão em doses iguais, com um mínimo de seriedade, muita imaginação e que, apesar de serem filmes de baixo orçamento e quase trashs, influenciou muita gente boa na época (incluo aí Stephen King, que cita esses dois filmes em It - A Coisa) para o gênero. Por tudo isso geniais; cumpriram seu papel, que foi o de acelerar corações de maneira doida e criativa por 2 horas. Diversão garantida!

A parte inicial desse conto já havia sido escrita antes, mas não era uma história de terror. Era uma crônica ligeira chamada Sábado, mas de uma hora para outra a fonte secou e a crônica ficou incompleta, sem um final. Deixei-a lá, quieta, e mais tarde, com vontade de escrever uma história de terror que fosse de tal e tal jeito, lembrei-me dela e inseri-a no conto, mudando os detalhes para que se encaixasse no enredo, que já tinha na minha cabeça; e aquela parte acabou ficando como o início da história. É o mais recente dos meus contos; começou a ser escrito em 18 de janeiro do ano passado.

Não assisti ainda a nenhum dos filmes citados acima, embora tenho certeza de que estão por aí nos Torrentz da vida. O que fiz foi uma junção dos títulos de um e de outro: Jorge, cantor de uma banda de rock, a 'Post-Mortem', é um lobisomem; Carolina, sua namorada e backing vocal, é uma mutante extraterrestre! E cabe à irmã caçula de Carolina, Patrícia, descobrir e guardar o segredo da família. Minha intenção foi chocar, divertir, e assustar se possível... e qual adolescente do mundo já não se sentiu deslocado a ponto de parecer um ET? Este conto é, também, um pouco deles. Uma história bem bizarra, com cerveja, estranhas revelações e claro, Rock n' Roll.

Adoro o terror assim. Gosto de quando o gênero é pesado, "sério", estilo Hellraiser ou O Exorcista. Faz aquilo que o Terror, com "T" maiúsculo, se propõe a fazer: medo, muito medo. Às vezes o gênero faz você vomitar, como em A Mosca. E às vezes faz você até refletir, como na tetralogia dos zumbis de George Romero, que povoou um shopping-center com um bando de pessoas/zumbis totalmente desprovidos de consciência e valores, só lhes restando o mais puro e animalesco instinto de sobrevivência numa sociedade que era baseada unicamente em valores materiais e consumistas. "Será que você é um deles?"...

Mas quando é bizarro, amalucado, "terrir", trash, ou sanguinolento, mas descompromissado, como em Fome Animal ou Trash - Náusea Total é melhor ainda! Daria uma boa discussão, mas é um dos tipos de terror mais puro: tudo o que fazem é Entreter e Assustar. É a própria catarse coletiva ou individual. Quer coisa mais básica do que isso? Sabe lá o que é estar com a sua namorada no cinema lotado, gritando junto com a platéia toda nas piores partes de O Chamado (quando a menina-monstro sai do poço para a tela da TV do cara), todos saltando e as pipocas voando? Sabe lá o que é reunir os amigos e transportar uma televisão por tantos quilômetros só para ver Contos da Cripta e Colheita Maldita numa sessão regada à vinho barato? Sabe lá o que é ver Sexta-Feira 13, 6ª parte sozinho numa sala escura atento aos ruídos da noite? Sabe lá o que é ver aquele filme que não passava há séculos na TV, ansiosamente aguardado, quando seus pais e o resto do mundo está dormindo, e comentá-lo no dia seguinte com seus colegas de escola, quando a claridade faz todos os seus temores parecerem tolos e irreais, como se fosse a coisa mais natural do mundo? Sabe lá o que é se preparar desde manhã com guloseimas e refrigerantes para sentir medo mais tarde? Sabe lá o que é a alegria de assistir Uma Noite Alucinante?...

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Notas (cont.)


Acerto de Contas ou Duelo Suburbano - O único dos contos do livro que foi escrito, vamos dizer assim, "por encomenda". Há algum tempo atrás, o Metrô de SP fez um concurso de contos aberto a novos escritores que, obrigatoriamente, teriam que envolver ou o metrô daqui de Sampa ou as linhas da CPTM (trens suburbanos) no enredo da história. Pensei: vou fazer uma história bem ao meu estilo, nada de rasgar seda para ficar colocado. Fiz isso... e não ganhei nada, mesmo!

Resolvi escrever um conto em que um sujeito estranho e taciturno, morador de um bairro pobre, se envolve em uma enrascada e usa o trem para encontrar pessoas que resolveram cobrá-lo. Cobrá-lo de quê? Dívidas pendentes?... Um servicinho mal-feito?... Esse ponto decidi deixar obscuro. O caro leitor que decida o que achar melhor... a história começará daí, com o personagem saindo de um cortiço no Brás e pegando o trem, na estação Roosevelt, e indo até Estudantes (o fim da linha), no Expresso Leste, como é chamado. Mas como não haverá nenhum entendimento (pois as duas partes estarão dispostas simplesmente a matar ou morrer) um duelo será travado. Por isso, o subtítulo Duelo Suburbano. Mais um duro dia nos subúrbios de uma grande cidade como São Paulo. Este é um mundo difícil, um grande e difícil mundo.

Em 1996, quando estudava na escola Carlos de Campos, sempre descia na estação Brás do metrô e fazia um caminho que, se por um lado poupava tempo, por ser mais reto, atravessava, lamento dizer, lugares decrépitos, à beira dos trilhos do trem, separados por uma rua e um muro. Cortiços, velhas fábricas arruinadas, hotéis baratos, ruas desertas que passavam sob viadutos e em uma ocasião até um homem morto (de verdade) numa imunda passarela sobre a linha do trem. Enfim, uma atmosfera suja e fumacenta, um ambiente deteriorado, esquecido pela municipalidade, porém muito fértil de detalhes pitorescos e tipicamente suburbanos que passam a maior parte do tempo desapercebidas. Foi esse lugar, que eu passava todo santo dia, que resolvi colocar como sendo a "estrela" da história. A própria ferrovia de subúrbio, com seus trens desmantelados, também dá um ar decadente, e pensava como seria se eu mesmo estivesse morando lá, não conseguindo dormir direito por causa do barulho do trem passando muito próximo a cada 5 minutos... uma cidade fria, cínica, brutal.

Acho que o Metrô não gostou. Até porque a parte "dedicada" à CPTM é bem rápida mesmo, está "de passagem" no conto, pois a história está centrada no personagem principal e seu acerto de contas. No entanto, os editores da Litteris leram e aprovaram. Deus os abençoe por isso.

domingo, 12 de agosto de 2007

Notas (cont.)


A Noite do Lobisomem - Conto que também teve origem em um pesadelo. Um dos motivos mais simples e óbvios para uma história de terror... pelo menos para mim. E funciona mais ou menos da seguinte maneira: se foi tão horrível e me assustou, pode assustar você também... a parte ruim é ter de agüentar até o fim do sonho para depois escrevê-lo - ou melhor, descrevê-lo!

A maior parte da história, a perseguição pelas ruas da cidade (com o Lobisomem à espreita) até os atores ficarem cercados pelos cães do inferno, já estava toda em minha cabeça (hehe, desculpem o "trocadilho"), e tudo o que fiz foi "refinar" o enredo, dando-lhe uma forma mais literária. Então, tive de principiar a história com o filme sendo rodado, a apresentação dos atores (que são os personagens principais), etc., até o conto encaixar-se na "trama" original e, alertados pelos uivos arrepiantes da criatura, começarem a tentativa desesperada de fuga, até o surpreendente final. Este não foi sonhado, mas sim criado a partir da "deixa" que o sonho deu, e até hoje me dá pavor o velho que aparece e... bem, vocês, caros leitores, verão. Este conto começou a ser escrito no dia 17 de Junho de 2002, uma segunda-feira, aliás no mesmo dia em que tive o pesadelo, e já ouvindo os Zumbis do Espaço cantarem "Ouça o Lobo Uivar" no CD deles mais recente, à época: Aberrações que Somos, comprado em maio no festival Rock em Sampa, se não me engano. Concluo que o processo nada mais foi que a prova cabal daquele poema de Fernando Pessoa: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce"... não é?

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Notas (cont.)


O Fantasma do Mal - Mais um conto que "nasceu" de uma viagem, dessa vez para Poços de Caldas, em Minas. Havia (não sei se ainda está de pé) um casarão, alto e vetusto, na parte superior de um morro, perto de um jardim japonês, se não me falha a memória; e chamou-me tanto a atenção aquela respeitável moradia que decidi escrever sobre ela - aqui me desculpem os eventuais moradores, que me perdoem a licença ficcional! - e situar a história em Poços mesmo. A descrição que fiz no começo do conto sobre essa casa é puramente fantasia, visto que o casarão, quando o vi, estava bem conservado. Então, tomando de um pesadelo que tive, em que todas as descargas e torneiras da casa começaram a funcionar sozinhas e ao mesmo tempo e a porta do banheiro estava entreaberta mal revelando uma coisa terrível (o chuveiro jorrando sangue), juntei as duas coisas e escrevi esta história de possessão demoníaca, em que o fantasma satânico de um garoto toma conta da casa onde cometeu um terrível crime contra seus próprios pais, e que, casa posta à venda após o ato, repetia ad infinitum as mesmas coisas que fizera encarnando naquele que lá estivesse, fazendo assim um macabro círculo vicioso de crimes.

Procurei explorar um pouco o terreno dos doppelganger, figura que no folclore germânico é uma duplicata fantasma má de cada pessoa, pois a narração do conto é feita de maneira em que o caro leitor se confunda um pouco ao perceber sobre quem está lendo (o assassino original ou aquele que foi possuído?) - um duplo, portanto, que é, ao mesmo tempo, uma aparição demoníaca e um ser comum. Mas devo dizer que neste caso a maestria do gênero fica por conta de Edgar Allan Poe, que escreveu sobre isso em William Wilson uma história genial. Vale a pena lê-lo. Stephen King também já desenvolveu o tema, em A Metade Negra, mas o conto de Poe é superior.

A história original tinha recebido o nome de "Esta Noite Nós Matamos"; o "nós", nesse caso, fazendo referência justamente ao doppelganger e ao narrador do conto, e também à uma música do Ministry que se intitula Tonight We Murder. Mas decidi "guardar" esse título para uma outra história, um conto de terror adolescente, e entrou para o livro o título O Fantasma do Mal.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Notas (cont.)


A Mais Longa das Noites - Este conto nasceu de uma pergunta que sempre fazia a mim mesmo quando terminava o período do horário de verão: toda a imprensa anunciava que a madrugada do dia tal seria "a noite mais longa do ano" (em conseqüência do atraso dos relógios em uma hora, à meia noite); então sempre me perguntava se alguma coisa, alguma coisa ruim, poderia acontecer nesse período de tempo, numa história de terror, e o fato da madrugada em questão "ganhar" mais uma hora prolongaria o sofrimento. Mais tarde, mudei a questão: e se, ao invés do desespero aumentar em razão da madrugada "ganhar" mais uma hora, ele fosse tão angustiante que, de fato, a noite pareceria prolongar-se, tornando-se longa? E que coisa melhor para isso que um ataque inesperado de zumbis?...

Isso foi o que decidiu a questão. A cidadezinha de Nova Brasília é fictícia, e a razão de centrar a história no ano de 1999 deveu-se ao fato de um pequeno frisson, à época da virada desse ano, ter se espalhado em relação às incertezas do ano 2000... fim-do-mundo! Bizarrices! - coisas desse tipo, que certamente todos devem se lembrar, não obstante eu começar a escrever o conto em 9 de março de 2000... já que o mundo não acabou.

Muito da "geografia" do conto, a casa e suas ruas principais, vem da minha antiga residência, do antigo bairro em que morava, e nele decidi fazer uma história bem trash: zumbis, balas e sangue em profusão, mesmo que as primeiras partes do conto ficassem com um desenvolvimento mais lento (o que remete à idéia de noite longa); para logo em seguida o caro leitor ser jogado num pesadelo de zumbis em que tudo se move rápido e de forma alucinante.

E fiquem longe de centrais de energia elétrica. Fazem um barulho enervante mesmo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Notas


Este post, e os subseqüentes, falarão das idéias que tive para escrever os diferentes contos, e o processo de passá-las para o papel. Conheçam as inspirações que brotaram na minha doentia cachola - podemos chamar até de curiosidade mórbida! Mas se você, caro(a) leitor(a), for daquele tipo que não quer saber como o "mágico realiza seus truques" (hehehehe), então, não leia essa parte...

Vão na ordem em que estão os contos no livro.


A Capela Maldita - Um dos meus primeiros contos escritos. A idéia para escrevê-lo veio de uma capelinha que existe até hoje e ainda não tenho explicações para o fato. Quem sabe alguém da região possa ler isto e ajudar-me a entender o porquê daquele troço...

Até algum tempo atrás, no período das minhas férias escolares, viajava muito com os meus pais. Ficávamos cinco, seis dias em colônias de férias do CPP (Centro do Professorado Paulista) ou da AFPESP (Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo), das quais meus pais eram (e ainda são) afiliados. Eram colônias de férias modestas, sem grandes luxos, mas localizadas em cidades pequenas muito bonitas, do interior e do litoral, que ofereciam um descanso à balbúrdia da nossa Paulicéia desvairada.

Uma dessas colônias de férias da AFPESP (que eles chamam agora de URL, Unidade Recreativa de Lazer) ainda fica em Socorro, cidadezinha a 140km de São Paulo, muito bem localizada, entre montanhas, e grande produtora de malhas. Faz parte do "circuito das malhas", onde entram também Serra Negra, Monte Sião (em MG), etc. A colônia, no alto de um morro, com uma linda visão panorâmica, foi reformada há pouco tempo e está maior. Como o lugar é alto, faz frio e é um lugar bom para se ir no inverno e aproveitar as oportunidades do circuito das malhas.

Pois bem, era fins de Janeiro de 99, férias acabando, e toca a ir para Socorro. A colônia, como já disse, fica num lugar alto, e para chegar até ela é preciso que, de carro, pegue velocidade e "embalo" para a subida, numa via que sai da estrada principal e se encaminha para lá. É uma via escoltada por árvores do lado direito de quem está indo para a colônia, e estando lá justamente nesse dia, que calhou de ser o dia da chegada, reparei em algo curioso: em determinado ponto dessa estrada havia um "hiato" de árvores, uma espécie de clareira no bosque, em que no meio se erguia, soturna e misteriosa, uma construção - uma capela. Já tinha ido para Socorro algumas vezes, mas nunca tinha reparado nessa coisa fora do comum, anormal até, talvez pelo fato do carro já estar em velocidade para iniciar a subida ou mesmo eu estar olhando para o outro lado... e pensei então na estranheza daquilo: que lugar para se construir uma capela! Rodeada pelas árvores de um bosque, longe de qualquer comunidade significativa (pois a colônia fica longe da cidade em si), definitivamente esquisito! Parafusei aquilo na minha mente durante o período que lá estive, e em determinada ocasião fui a pé mesmo até o lugar para ver mais de perto, e então outra coisa chamou-me a atenção: a capela (se é que era uma capela) estava trancada e parecia que ninguém a estava usando durante bastante tempo, pois suas janelinhas estavam baças e empoeiradas. Além disso, reparei que não havia um poste de luz sequer por perto. À noite, aquilo deveria parecer mais enigmático ainda. No dia que voltei para Sampa, dentro do carro com meus pais, lancei um último olhar àquela construção que, na minha cabeça, já iria virar história, com todas as perguntas e indagações que não tinham respostas para aquilo.

E assim fiz. Comecei escrever o conto no dia 29 de janeiro de 1999, uma sexta-feira, no comecinho da noite, e não parei até estar pronta, entre copos de Coca e ouvindo Iron Maiden tocar "Fear Of The Dark" no CD. No começo, a história não tinha um nome definido, pensava em incluí-la numa coletânea de contos que pudesse vir a ser chamada "Contos da Meia-Noite", mas decidi que em Terrores Noturnos chamaria-se "A Capela Maldita", e assim ficou. A capelinha, essa ainda está lá até hoje. Nunca descobri para quê serve, ou quem a erigiu.

Sinopses dos contos (cont.)


Acerto de Contas ou Duelo Suburbano - Neste conto, uma estranha figura passeia pelos subúrbios paulistanos e decide o que será do seu destino, que o aguarda no fim de uma rua qualquer, sob um poste de luz, empunhando armas. Ele não terá segunda chance: o que foi feito, está feito, há um pequeno acerto a ser realizado, um duelo suburbano prestes a acontecer, e não se sabe quem levará a melhor. Conto policial.

Eu Fui Um Monstro Adolescente - Bizarro! O que esperar de um lobisomem, cantor e guitarrista de uma banda de rock, que namora a backing vocal da banda, que por acaso, é uma mutante do espaço exterior? Esta mesma pergunta fará Patrícia, a protagonista da história, e irmã menor de Carolina, sua "mana" extraterrestre, quando descobrir toda a verdade; e também farão os leitores, no fim deste conto!

A Dinastia - Era uma vez, há muito tempo atrás, um homem ambicioso e sem escrúpulos que tinha um sonho: começar vida nova e enriquecer. Não importa o preço a ser pago, ele queria a opulência, o poder da riqueza para si e para todos da sua Dinastia. Mas será que vale a pena fazer um pacto com o Diabo para tanto? Para Francisco Marcondes Ferreira, vale até a sua alma. Mas quando a sua linhagem estiver no fim, Belzebu voltará para lhe tomar o que foi prometido. Leia e acompanhe o drama dele e de William Marcondes Ferreira, o último herdeiro, que terá um encontro decisivo com aquele a quem seu tataravô fez uma permuta: Minha alma por tudo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Sinopses dos contos



A Capela Maldita -
Coisas ruins geralmente acontecem com aqueles que se perdem na floresta. Eduardo, um cara comum, fazendo uma excursão aos bosques, vai descobrir isso. E vai descobrir também outras coisas piores, que se escondem nos lugares mais recônditos nas matas - como uma inexplicável capela, erigida por desconhecidos, para adoração... de quem? Ou de quê? Descubra...

A Mais Longa das Noites - Passado na cidadezinha fictícia de Nova Brasília, narra uma noite assustadora na vida de três amigos - Roger, Henrique e Gilberto, dois deles fanáticos por armas - quando os cemitérios da cidade começam a vomitar seus cadáveres, transformando todos em zumbis. Sobreviverão à noite? Ou os Zumbis levarão a melhor? Só uma coisa é certa: muitas balas, ação e diversão!

O Fantasma do Mal - Pai, mãe e filho alugarão uma casa numa pequena cidadezinha para passarem férias perfeitas em família. Mal sabem o que os espera... a casa tem uma história e um passado negro... e o Fantasma do Mal voltará para reclamar a vida de todos. Uma possessão demoníaca, talvez?... Conto que evoca a lenda do doppleganger, uma duplicata fantasma má de alguma pessoa. O lado escuro de cada um, caminhando e matando, e que pode aparecer sem esperar.

A Noite do Lobisomem - Quando a lua cheia aparece por detrás das nuvens, é chegada a hora do lobo. Esta é a noite do lobisomem, na qual ninguém poderá escapar. Muito menos os atores de um filme de terror que não acreditam em tais histórias. Mas naquele lugar, onde todos os habitantes já conhecem a maldição da lua cheia, é o Lobisomem quem manda. Mais tarde, nessa noite, aqueles atores perceberão que estão desesperadamente errados...


Mais sinopses em breve...

Curiosidade - "trilha sonora" de Terrores Noturnos!


Há várias músicas citadas entre os diferentes contos deste livro. Algumas bandas, como Misfits, por exemplo, fazem parte da minha lista de favoritas, e uma das razões disso é que no caso do Misfits foi justamente o punk rock que eles fazem com uma temática de terror, originalíssimo, suas letras bem-humoradas falando de monstros, zumbis, vampiros e filmes B que imediatamente me chamou a atenção. Para quem gosta de terror e ainda não conhece, vale a pena saber mais.
Enfim, aqui vai a lista para você, se quiser, ir ouvindo à medida que for lendo:

1. Blue Oyster Cult - "Don't Fear The Reaper";
2. Ramones - "Pet Sematary";
3. Iron Maiden - "The Number Of The Beast";
4. Iron Maiden - "Fear Of The Dark";
5. Misfits - "Night Of The Living Dead";
6. Misfits - "Die Monster Die";
7. Misfits - "Astro Zombies";
8. Zumbis do Espaço - "Mortos Vivos do Além";
9. Kiss - "Rock n' Roll All Nite";
10. Ramones - "Cretin Hop";
11. Ramones - "Rockaway Beach";
12. Ramones - "Sheena Is A Punk Rocker";
13. Ramones - "Blitzkrieg Bop";
14. Ramones - "Strength To Endure";
15. Ramones - "Poison Heart";
16. Ramones - "Take As It Comes";
17. Ramones - "Bonzo Goes To Bitburg";
18. Ramones - "Howling At The Moon (Sha-La-La)";
19. Iron Maiden - "Virus";
20. Iron Maiden - "Hallowed Be Thy Name";
21. Iron Maiden - "Running Free";
22. Misfits - "Fiend Without A Face".