domingo, 23 de dezembro de 2007

Zumbis "apressadinhos"?


Recente artigo da revista eletrônica americana Slate reproduz matéria, escrita em 2004 por Josh Levin, da tendência, nos modernos filmes de terror, dos zumbis correrem atrás de suas vítimas, ao contrário dos filmes mais antigos, em que eles andavam, ou melhor, se arrastavam. O artigo, em inglês, está aqui. Nele, o autor traça uma história dos filmes de zumbis e discorre sobre vários aspectos desses monstros, faz citações sobre filmes e “fatos” (em uma, retirada do The Zombie Survival Guide, é dito que “Zumbis parecem ser incapazes de correr. O mais rápido foi observado se movendo a uma faixa de aproximadamente um passo a cada 1,5 segundo”) e analisa até mesmo o avanço da tecnologia cinematográfica para compor o quadro geral.


Josh Levin na época parecia estupefato com a recente refilmagem de Dawn Of The Dead (“Zombie, o Despertar dos Mortos”). Aqui no Brasil essa refilmagem ganhou o título de Madrugada dos Mortos. Eu mesmo fui ver o filme no cinema, e devo dizer que eu também fiquei pasmo com esse aspecto. Os zumbis não apenas correm, eles fazem 100 metros rasos em menos de 10 segundos. Eles disparam mesmo; às vezes, até mais do que os vivos (!). Foi estranho ver os sobreviventes disputando, em certas cenas, “quem-chega-primeiro” com zumbis.


Claro, o original de George Romero é infinitamente melhor, e altamente recomendável para qualquer fanático do gênero. E se Josh Levin esperasse mais um ano, veria George Romero lançar Terra dos Mortos (Land Of The Dead) e reafirmar os princípios básicos: Andar, não correr. A única “evolução” foi no fato dos zumbis agora serem capazes de ‘aprender por repetição’, ainda que coisas simples. E convenhamos, muito mais plausível do que saírem correndo como se fossem... vivos. Mas não entrarei aqui nos porquês da nova tendência. Com a palavra, o Mestre:


“ – Eles são lentos, chefe?
- Sim... eles estão mortos”

- A Noite dos Mortos-Vivos (Night Of The Living Dead, 1968, de George Romero, citado no artigo)


Eis o principal aspecto! Eles estão Mortos, pelo Amor de Satanás! Reanimados, mas mortos assim mesmo. É inconcebível um zumbi correndo. Algumas razões:


1) Como pode um zumbi sair correndo se o cérebro já se decompôs? Correr não é um reflexo. É uma “ordem” dada pelo cérebro às pernas, e envolve uma série de fatores. Mas o cérebro de um zumbi geralmente já está podre, ele funciona somente para obedecer os instintos mais básicos (locomover-se – ‘caçar’ – comer). Mais adiante, alguns podem ‘aprender por repetição’ (veja acima).


2) Mestre George Romero ensinou que há uma lenta degeneração entre a transformação de um vivo para morto-vivo. Não é instantânea. Isso exclui, portanto, o argumento de que “pessoas recentemente infectadas poderiam correr”. Nada disso. Assista qualquer filme da “Tetralogia dos Mortos” e verá que passa um certo tempo até a transformação. E aí, voltamos ao argumento nº 1 (cérebro em estado de decomposição).


3) Eles vencem pelo número. Talvez a principal lição de G.R. aqui. Não pela velocidade. Não foi essa a intenção original, como se pode ver no primeiro filme da série, ou até mesmo em outros filmes mais antigos. Mas vencem pelo número, cada vez maior. Os outros filmes dele e outros mais, como Re-Animator – a Hora dos Mortos Vivos, confirmam essa hipótese. Creio que Romero nesse caso concebeu uma idéia de contaminação lenta, irreversível, e claustrofóbica... a Terra inteira iria aos poucos se contaminando, e não havia nada que você pudesse fazer... quer coisa mais aterrorizante do que isso? Para que correr, se vão dominar o mundo mesmo? Como escrito no artigo, “É fácil matar um, mas 1.000 indomáveis comedores de carne talvez poderiam se sobrepor a você”.


4) Pura ignorância do(s) diretor(es). Lembrando novamente o artigo, um diretor com antecedentes de comerciais e vídeo-clipes (formato ágil, rápido) torna-o constitucionalmente incapaz de criar zumbis lentos. Sem contar a ignorância para o Gênero Terror, como Kubrick em O Iluminado. Mas isso já é história para um outro post...


5) Um zumbi, ou melhor, vários zumbis lentamente cercando e encurralando suas vítimas cria uma atmosfera mais assustadora e desesperante, além do suspense; melhor, portanto. Filmes de Zumbis que correm não dão este clima, e a graça se perde, por melhor que sejam os efeitos especiais. A inevitabilidade aterroriza!!!


E vocês, o que acham? Há uma certa linha de argumentação que diz que zumbis lentos são parte do passado, que no mundo frenético de hoje o melhor são zumbis que correm, até em favor de um gosto moderno por individualismo (“EU chegarei primeiro!”). Tolice.



Nunca confie num filme de terror em que os zumbis correm.



Para terminar, mais uma vez agradeço a todos que estiveram no lançamento de Terrores Noturnos no Opção. Obrigado, pessoal, sem vocês a festa seria impossível.

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